O espetáculo “Fragmentos de um Sol Quente”,
do Núcleo de Artes Cênicas da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e
Artes, no Altiplano, foi selecionado para participar da I Mostra Teatro,
Escola e Diversidade, do Sesc Paraíba. A peça, que conta a história da
fundação de João Pessoa, partindo do romance proibido de um casal de
índios de tribos inimigas, vai ser apresentada na próxima quarta-feira
(22), às 17h, no auditório do Lyceu Paraibano. A entrada é aberta ao
público, e o foco é atingir os estudantes de escolas públicas pela ‘veia
teatral’, também com oficinas e debates após as apresentações.
A mostra vai ser realizada de 21 a 23 de maio e também tem caráter
competitivo. Todos os nove espetáculos da programação serão avaliados
por um júri artístico, que premiará os três primeiros colocados com R$ 1
mil.“O meu intuito ao planejar a mostra era garimpar talentos das artes
cênicas, não só nas escolas, mas nos templos religiosos e Ongs de João
Pessoa”, diz o coordenador de Cultura do Sesc-PB, Chico Noronha.
“Fragmentos de um Sol Quente” – Baseado no famoso
painel “No Reinado do Sol” (2008), de Flávio Tavares, o espetáculo é
escrito e dirigido por Flávio Melo. Ele resulta do núcleo de teatro pelo
qual 22 atores passaram. “Fragmentos de um Sol Quente” também bebe da
influência do texto “Manaíra e Tambaú, uma história de amor”, assinado
por Antônio dos Santos, Chuá e conta a história da fundação de João
Pessoa a partir do amor conturbado da potiguara Manaíra e do tabajara
Tambaú.
Daí em diante, uma sequência dos principais episódios da história
paraibana é encenada, como o Massacre de Tracunhaém (que gerou a divisão
da capitania de Itamaracá), a independência da colônia, a expulsão dos
holandeses e todo o itinerário que nos leva do passado (a esquerda do
quadro) para os tempos mais atuais (à direita, onde se situa a cidade
crescida arquitetonicamente, dos casarões às festas de rua).
“A minha ideia não era fazer uma adaptação fiel da narrativa do
painel, e sim desenvolver uma liberdade poética em cima dessas duas
referências, a pictórica e a literária”, diz Flávio, professor de
teatro. Por isso ele justifica haver quebras na linearidade cronológica,
bem como na escolha de apenas algumas personagens presentes na pintura
para representar, como Augusto dos Anjos, José Lins do Rêgo, Ariano
Suassuna e Manuel Caixa D’Água. “Os atores entram e saem de cena como
uma tela em branco que de repente vai ganhando vida”, explica.
Elementos externos ao quadro também compõem a “liberdade criativa”
reivindicada pelo diretor. “Há fatos da história política e indígena do
Nordeste dos coronéis, festas populares, folclore, o artesanato
brasileiro, a literatura de cordel, as artes plásticas e a antropofagia
da Semana de Arte Moderna de 1922”, cita.
O próprio Flávio Tavares está representado de duas formas: na de
pintor, preocupado porque esvaziado de ideias (Fagner Ribeiro), e na de
inconsciente materializado de menino (Rodrigo Batista), cheio de
inspiração e criatividade. Os dois, em sua completude, formam a
genialidade que culmina na criação de “No Reinado do Sol”. “Tem sido uma
experiência enriquecedora e, ao mesmo tempo, um desafio participar
deste espetáculo por se tratar de uma obra tão complexa que, além de
fazer um relato histórico-geográfico atemporal, apresenta personagens
que marcaram a mente de muitos pessoenses”, declara Fagner, o
protagonista.
Flávio Melo – Formado em Educação Artística pela
Faculdade Marcelo Tupynambá (SP), dirigiu os espetáculos “Valsa n° 6”
(1991), “Ratos de Esgotos” (1992), “Prêt-à-Porter” (1998), “No Amanhecer
da Noite” (2003), e em “As Meninas” (2009). Atuou em “Cinco Bulas sem
Contraindicação” (1993), “Pequenos Burgueses” (1996), “Gol Anulado”
(1997), “Prêt-à-Porter” (1998), “Fragmentos Troianos” (1999), “Achados e
Perdidos” (2000), “No Amanhecer da Noite” (2003), “A Fantástica
Peregrinação do Coronel atrás de um Rabo de Saia” (2008), “Paixão do
Menino Deus” (2009), “Os Sete Mares de Antônio” (2010) e “Divino
Calvário” (2011).
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